Introdução

Você, certamente, deve estar se perguntando por que estudar a Língua Brasileira de Sinais, a Libras. Afinal, essa é a língua dos surdos brasileiros e, provavelmente, você nem conhece alguém surdo. Outra coisa que, talvez, você não sabe, caro(a) aluno(a), é que, no Brasil, atualmente, há cerca de 5.700.000 pessoas surdas.

Segundo dados do Ministério da Educação (MEC), em 2001, havia 50 mil estudantes surdos matriculados no Ensino Fundamental, a maioria em classes comuns, em escolas inclusivas. Apesar dessa grande quantidade de alunos surdos matriculados no ensino regular, poucos obtêm sucesso, principalmente, porque a principal maneira de ensinar ainda é a explicação oral. Nesse caso, o surdo não entende nada, devido à dificuldade de comunicação entre professores e alunos.

Esse dado de 2001 é importante, porque essa constatação deu origem a diversas ações do Ministério da Educação brasileiro, mudando radicalmente, e para melhor, a educação do surdo brasileiro. Foi tentando mudar essa realidade de fracasso educacional dos alunos surdos que o Governo Federal adotou diversas medidas, dentre elas, o Decreto Federal nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Esse Decreto tornou obrigatório o ensino de Libras em todos os cursos de formação de professores e também de fonoaudiologia do Brasil, além de tornar a Libras uma disciplina optativa nos demais cursos.

Por esse motivo, caro(a) aluno(a), você estudará essa disciplina, que tem como objetivo proporcionar o estudo da Língua Brasileira de Sinais e refletir sobre a surdez, a cultura, as identidades surdas e a educação de surdos na realidade brasileira, pensando na inclusão social e educacional do surdo. Nesse sentido, a surdez pode ser caracterizada de duas maneiras distintas: seguindo o modelo médico, que a considera uma deficiência, uma limitação de natureza patológica, rotulando a criança por aquilo que ela não é capaz de fazer.

Por outro lado, ao ser adotada a concepção socioantropológica, que entende a surdez não mais como uma patologia, mas como uma diferença linguística, a criança surda passa a ser encarada a partir de suas possibilidades, que podem ser mais ou menos aproveitadas em função da educação ofertada.

Assim, compreender os surdos e a surdez por meio desse viés educacional é fundamental para o professor, pois é esse profissional que estará mais próximo da família no momento dela lidar com a educação da criança surda. Além disso, pensando no surdo adulto, que pode e deve exercer sua cidadania, é importante que qualquer profissional esteja minimamente capacitado para atendê-lo.

Dessa forma, procuramos atender, prioritariamente, a três grandes objetivos: proporcionar a constituição de uma imagem positiva da surdez e dos surdos; favorecer a inclusão educacional e social do surdo; promover a difusão da Libras. Para atingir esses objetivos, este livro está organizado em três unidades. Na Unidade I, apresentamos a Libras – Língua Brasileira de Sinais, em seus aspectos geral e sintático.

A Unidade II é destinada, basicamente, à apresentação de um vocabulário específico, o qual permite que você, caro(a) aluno(a), comunique-se, de modo funcional, com o surdo, em sua área de atuação profissional. Apresentamos, também, na segunda unidade, os profissionais da Libras, a saber, o tradutor intérprete de Língua de Sinais (TILS) e o professor de Libras, que, de acordo com o Decreto nº 5.626, deve ser, prioritariamente, surdo.

Na Unidade III, trataremos da sensibilização e da conscientização acerca dos aspectos sociais e antropológicos da surdez, ao discutirmos as concepções de surdez, as diferentes filosofias educacionais, a cultura e as identidades surdas e a história da educação de surdos. Ainda, apresentaremos algumas leis e políticas públicas relacionadas à educação de surdos, finalizando com uma desconstrução de alguns mitos e crenças sobre a surdez e os surdos.

Na conclusão, além de retomarmos os assuntos abordados nas Unidades I, II e III, há uma breve discussão a respeito da inclusão educacional e social do surdo. Essas discussões são sustentadas em nossa formação acadêmica, mas, particularmente, em nossa experiência de vida.

Devido aos nossos sobrenomes, você já deve ter percebido que nós três somos parentes! É verdade. Somos mãe (Clélia), ouvinte, e filhas (Marília e Beatriz), surdas e vivenciamos um período muito difícil na vida do surdo brasileiro, no qual os professores não aprendiam a se comunicar com seus alunos e os próprios surdos eram proibidos de usar a Libras.

Isso acontecia porque as pessoas, incluindo os professores e a família, acreditavam que aprender a falar oralmente era a única forma de o surdo – que, naquela época, era denominado deficiente auditivo – se integrar à sociedade. Atualmente, muita coisa mudou, inclusive, a maneira de se referir aos surdos. Portanto, é essa experiência que nos credencia a discutir esses temas tão delicados com você, caro(a) aluno(a).

Finalizamos esta apresentação com uma frase atribuída ao surdo francês Ferdinand Berthier, que viveu no século XIX e é considerado um dos mais brilhantes exemplos de sucesso de um surdo, sendo um dos fundadores da primeira associação de surdos, a Societé Centrale des Sourds Muets, de Paris. Essa frase foi extraída do livro de Gesser (2009): “O que importa a surdez da orelha, quando a mente ouve? A verdadeira surdez, a incurável surdez é a da mente” (BERTHIER, 1854).

Abram suas mentes e bons estudos.

Parabéns

Introdução Concluída

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